Fintechs na mira: o que as megaoperações mostram

As operações recentes colocaram fintechs no centro do debate sobre lavagem de dinheiro. A Operação Hydra expôs o uso de instituições de pagamento para movimentar recursos de facção, com prisões, buscas e bloqueios. Já a Operação Carbono Oculto detalhou a utilização de estruturas financeiras paralelas — inclusive “contas-bolsão” — para compensações entre distribuidoras, postos e intermediários. O recado é claro: a cadeia de pagamentos está sob lupa.

Por que isso atinge quem “só processa pagamentos”

Mesmo quem “apenas processa” transações pode ser cobrado por deveres mínimos de prevenção. O risco cresce quando falham a seleção de clientes e parceiros e o monitoramento de transações. Em estruturas complexas, omissões relevantespodem ser lidas à luz do dever de agir quando houver posição de garantidor (vínculo funcional, poder de mando e possibilidade concreta de evitar o resultado), conforme o art. 13, § 2º, do Código Penal. A fronteira entre atividade neutra e facilitação culposa/dolosa fica tênue quando decisões de risco são ignoradas.

Como organizações criminosas se infiltram na cadeia de pagamentos

A infiltração opera por dentro de estruturas formais: contratos de fachada, intermediações opacas, empresas-veículo e redes de terceiros que simulam governança enquanto concentram decisões e apagam rastros. No ecossistema de pagamentos, isso aparece em onboarding permissivo de clientes e parceiros, delegação sem controle, contas compartilhadas/bolsão, compensações privadas e uso de correspondentes para “esfriar” a trilha do dinheiro. Para um panorama com sinais práticos e medidas de resposta, veja nosso guia sobre infiltração de empresas pelas organizações criminosas.

Três falhas que mais geram risco (e como reconhecer)

  • Know Your Client (conheça seu cliente): cadastro robusto, validação de identidade e origem de recursoscompatível com o perfil. Sinal amarelo: volume incompatível com a capacidade econômica declarada; aprovação de clientes de alto risco sem salvaguardas. O uso de contas-bolsão aumenta a opacidade e dificulta identificar o verdadeiro titular do dinheiro (ver Carbono Oculto, acima).
  • Know Your Business (conheça seu negócio): quem são seus parceiros e como se dá o onboarding delegadoSinal amarelo: terceiros sem governança, contratos sem cláusulas de integridade/auditoria e ausência de revisão periódica.
  • Limites e monitoramento de transações: limites dinâmicos, alertas por cenário e gestão de casos efetiva (alerta → caso → ação). Sinal amarelo: alertas que não viram casoscasos que não viram ações (bloqueio, comunicação ao Coaf, encerramento). Tendência: aumento nas comunicações de operações suspeitas.

Como reduzir exposição agora (ação imediata)

  1. Mapeie fluxos críticos (entrada de clientes, liberação de saldo, liquidações) e registre quem decide o quê;
  2. Reforce critérios de entrada e flags de risco em Know Your Client / Know Your Business;
  3. Ajuste limites e regras por segmento e horário, com testes de efetividade regulares;
  4. Trilhe decisões e logs (por quê, quem, quando) — isso salva a defesa técnica;
  5. Estabeleça legal hold em incidentes (sem editar arquivos) e treine o time para escalonar cedo.

Fechamento: investigação não é condenação — mas exige preparo

O que separa negócio legítimo de exposição penal é a governança concreta e a capacidade de comprovar que você não facilitou o ilícito. Se a sua operação cresceu, revisite agora diligência de clientes e parceiros, limites e monitoramento. Em dúvidas ou diante de intimação/denúncia, a estratégia correta passa por documentaçãorastros de decisão e atuação técnica tempestiva.

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