Empresa em crise na tela: 5 filmes para ver no recesso (sem desligar o radar)

Fim de ano é, ao mesmo tempo, pausa e balanço. Para quem ocupa cadeira de decisão em empresas sob forte pressão regulatória, financeira ou reputacional, é raro conseguir “desligar” completamente. Uma saída possível é usar o tempo de descanso para olhar a crise por outro ângulo – pela ficção. A lista abaixo reúne cinco filmes sobre empresa em crise, ganância, governança e escolhas difíceis. Não é aula de Direito Penal Empresarial, mas cada título ajuda a enxergar, com alguma distância, dilemas muito parecidos com aqueles que chegam ao contencioso.

Wall Street – Poder e Cobiça (Wall Street, 1987)

Clássico absoluto do gênero, dirigido por Oliver Stone e estrelado por Michael Douglas (Oscar de melhor ator), ao lado de Charlie Sheen e Martin Sheen, Wall Street – Poder e Cobiça acompanha um jovem corretor fascinado pelo mundo de poder e acesso de Gordon Gekko. Sem transformar o filme em manual de mercado de capitais, a trama mostra como a busca por resultados a qualquer custo corrói limites éticos, normaliza atalhos ilegais e transforma ambientes de trabalho em laboratórios de racionalização.

É um filme interessante para quem atua em empresas listadas, operações de M&A ou setores em que informação privilegiada, insider trading e assimetria informacional são temas sensíveis. A narrativa continua atual para discutir cultura de incentivos, conflitos de interesse e responsabilidade de quem “sabe demais” sobre a engrenagem.

O Lobo de Wall Street (The Wolf of Wall Street, 2013)

Dirigido por Martin Scorsese e estrelado por Leonardo DiCaprio, Jonah Hill e Margot Robbie, O Lobo de Wall Street é baseado nas memórias de Jordan Belfort, o corretor que narra sua própria ascensão e queda. Baseado em fatos reais, o filme acompanha a transformação de uma corretora em vitrine de excesso: drogas, ostentação, manipulação de clientes e desprezo completo por regras de mercado.

Apesar do tom de comédia ácida, o que interessa aqui não são as cenas de exagero, mas a forma como uma cultura interna distorcida vai, pouco a pouco, normalizando condutas que em algum momento vão parar na esfera penal. Para conselhos e diretoria, é um bom ponto de partida para refletir sobre o quanto o “clima” da organização influencia decisões que, mais tarde, serão analisadas por Ministério Público, CVM e órgãos de controle.

A Grande Aposta (The Big Short, 2015)

A Grande Aposta volta à crise financeira de 2008 sob a perspectiva de alguns poucos que perceberam, antes dos demais, que a bolha imobiliária iria estourar. Dirigido por Adam McKay, com Christian Bale, Steve Carell, Ryan Gosling e Brad Pitt, o filme é baseado no livro de não ficção The Big Short: Inside the Doomsday Machine, de Michael Lewis.

A narrativa alterna humor e explicações didáticas para mostrar como produtos financeiros complexos, incentivos desalinhados e uma cadeia longa de intermediação podem esconder riscos sistêmicos por trás de relatórios aparentemente técnicos. Para quem atua em bancos, fintechs, securitização, fundos ou estruturas de crédito sofisticadas, é um convite a olhar com mais cuidado para aquilo que “todo mundo faz” sem questionar. A recomendação aqui não é aprender finanças pelo cinema, mas perceber como decisões tomadas em microcontextos – uma aprovação de produto, um rating condescendente, um modelo de remuneração – se somam até produzir a tempestade perfeita.

Grande Demais para Quebrar (Too Big to Fail, 2011)

Enquanto A Grande Aposta olha a crise “de fora”, Grande Demais para Quebrar acompanha os bastidores das decisões de governo, reguladores e grandes bancos nos momentos mais agudos de 2008. Dirigido por Curtis Hanson e baseado no livro homônimo de não ficção de Andrew Ross Sorkin, o filme reúne nomes como William Hurt, Paul Giamatti, Billy Crudup, Cynthia Nixon e James Woods.

A câmera entra nas reuniões fechadas em que se discute quem será salvo, quem quebra e quais são os custos políticos e econômicos de cada escolha. É um filme valioso para empresários e executivos que interagem com o poder público, dependem de autorizações regulatórias ou operam em setores “sistêmicos” (infraestrutura, energia, saúde, educação, financeiro). Ajuda a visualizar como, em momentos de crise aguda, o ambiente decisório deixa de ser apenas técnico, passa a ser profundamente político e, não raro, se torna terreno fértil para investigações, CPIs e processos penais quando a poeira baixa.

Um Senhor Estagiário (The Intern, 2015)

Dirigido por Nancy Meyers e protagonizado por Robert De Niro e Anne Hathaway, com Rene Russo no elenco, Um Senhor Estagiário parece, à primeira vista, apenas uma comédia leve. A trama acompanha o encontro entre a fundadora de uma startup de moda, em crescimento acelerado, e um estagiário sênior de 70 anos, viúvo, que decide voltar ao mercado de trabalho.

Por trás do tom agradável, o filme fala de governança em empresas jovens, sobrecarga do fundador, dificuldade de delegar e o impacto disso na tomada de decisões. Para quem vive o dia a dia de scale-ups, empresas familiares em processo de profissionalização ou negócios que cresceram mais rápido do que a estrutura, o filme oferece um espelho gentil – mas realista – sobre cultura, sucessão, confiança e os limites do “eu resolvo tudo”. Não é uma história de crime corporativo, mas é exatamente o tipo de contexto em que, se nada for ajustado, problemas jurídicos aparecem depois.

Para fechar o ano: cinema, recesso e um olho na empresa

Catálogos de streaming mudam com frequência, mas, na data desta revisão, é possível encontrar os filmes nos seguintes serviços (em geral, no Brasil):

– Wall Street – Poder e Cobiça (Wall Street, 1987)
  – disponível para streaming no Disney+ e para aluguel/compra em plataformas como Apple TV e Google Play Filmes.

– O Lobo de Wall Street (The Wolf of Wall Street, 2013)
  – disponível em streaming na Netflix e também em serviços como Prime Video e Apple TV, em modalidades de aluguel/compra.

– A Grande Aposta (The Big Short, 2015)
  – disponível para streaming na Netflix e em plataformas como Paramount+, além de aluguel/compra em Apple TV.

– Grande Demais para Quebrar (Too Big to Fail, 2011)
  – disponível para streaming na HBO Max, e também em lojas digitais como Google Play Filmes e Apple TV.

– Um Senhor Estagiário (The Intern, 2015)
  – disponível para streaming na Netflix e, em alguns planos e períodos, também para aluguel/compra no Prime Video e em Apple TV.

Vale sempre checar o catálogo do seu serviço de preferência, porque a disponibilidade varia com o tempo e com o país.

No mais, a proposta é simples: olhar a empresa em crise sem a pressão da mesa de reunião. Assistir a essas histórias com o olhar de quem ocupa a cadeira de decisão – e não só como entretenimento – ajuda a enxergar com mais clareza cultura, incentivos, governança e risco penal.

Ajuste a agenda, escolha o streaming, prepare a pipoca e boas festas!

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